Alexandre Gaudêncio desafia António Pedro Costa a colocar em livro a história do Cantar às Estrelas
A Câmara da Ribeira Grande assinalou a 25.ª edição do Cantar às Estrelas com uma palestra nos Paços do Concelho subordinada ao tema “O imaginário remoto do cantar às estrelas”, em que foi orador António Pedro Costa, antigo presidente da autarquia e um dos impulsionadores do retomar desta tradição sob proposta do vereador Francisco Xavier Araújo Rodrigues.
O Salão Nobre dos Paços do Concelho tornou-se pequeno para albergar as largas dezenas de pessoas que quiseram assistir à palestra, adesão que “reforça a ligação que as pessoas têm ao Cantar às Estrelas”, realçou Alexandre Gaudêncio.
O presidente da Câmara da Ribeira Grande não escondeu a “satisfação” pelo facto de António Pedro Costa ter aceitado o convite para ser palestrante na 25.ª edição do Cantar às Estrelas, desafiando-o a “transpor para um livro a apresentação que realizou, bem como toda a investigação que colocou na preparação da palestra e o conhecimento que possui por ter sido no seu mandato enquanto autarca que a tradição foi retomada.”
Na sua apresentação, António Pedro Costa debruçou-se sob a forma como a tradição do cantar às estrelas chegou aos nossos dias. “É plausível que a tradição do cantar às estrelas remonte à procissão das velas que os primeiros cristãos comemoravam aquando da apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém, no dia 2 de fevereiro de cada ano, ou seja 40 dias depois do Natal, dando por findas as celebrações natalícias, tendo chegado aos nossos dias como forma de piedade popular e que ao longo dos tempos tenha evoluído com loas à Virgem Maria.”
No entender do palestrante, o ritual anual dos “cantares às estrelas”, comum na ilha de São Miguel, faz parte da memória coletiva, tanto em termos temporais, como geográficos, um pouco transversal à prática cristã, embora não considerado como culto pagão, considerando ser mais uma daquelas tradições micaelenses cujas raízes mergulham num passado ambíguo, que permanece ainda muito desconhecido por razões várias, entre as quais avulta a do conflito com a religião estabelecida.
Nos Açores, e em particular em São Miguel, esta tradição adquiriu um ambiente especial, com a piedade popular a falar mais alto e o povo a venerar e a louvar, bem à sua maneira, a Senhora da Estrela ou Senhora das Candeias.
António Pedro Costa também focou como se reiniciou o Cantar às Estrelas na Ribeira Grande, tradição que depois irradiou para outros lugares da ilha de São Miguel, em que o figurino dos atuais cantares remonta apenas ao século passado, mas que pode recuar, conjuntamente com outras formas de folia ou piedade popular até ao século XVI.
A concluir a noite, o grupo de cantares da Madre Teresa d’Anunciada (Ribeira Seca), trajado a rigor, fez uma pequena atuação com músicas alusivas à temática, encerrando da melhor forma um dos momentos do programa festivo da 25.ª edição do Cantar às Estrelas na Ribeira Grande.