António Pedro Costa profere palestra sobre o Cantar às Estrelas
Para assinalar a vigésima quinta edição do Cantar às Estrelas, a Câmara da Ribeira Grande promove amanhã, quinta-feira, às 20.00 horas, uma palestra nos Paços do Concelho, em que será orador António Pedro Costa, que irá abordar o tema “O imaginário remoto do cantar às estrelas”.
A autarquia pretende com esta comunicação proporcionar uma abordagem sobre esta tradição, pois só conhecendo a sua cultura, o cidadão compreenderá a importância de mantê-la viva na memória coletiva, como forma de preservar as nossas próprias caraterísticas, ou seja a nossa identidade.
No entender do palestrante, o ritual anual dos “cantares às estrelas”, comum na ilha de São Miguel, faz parte da memória coletiva, tanto em termos temporais, como geográficos, um pouco transversal à prática cristã, embora não considerado como culto pagão, considerando ser mais uma daquelas tradições micaelenses cujas raízes mergulham num passado ambíguo, que permanece ainda muito desconhecido por razões várias, entre as quais avulta a do conflito com a religião estabelecida.
Para António Pedro Costa, é plausível que a tradição do cantar às estrelas, que chegou aos nossos dias como forma de piedade popular, e que ao longo dos tempos foi evoluindo com loas à Virgem Maria, remonte à procissão das velas que os primeiros cristãos comemoravam aquando da apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém, no dia 2 de fevereiro de cada ano, ou seja 40 dias depois do Natal, dando por findas as celebrações natalícias.
Esta celebração aparece já descrita no diário da peregrinação de Egéria, à Terra Santa, entre o ano 381 e 384, tendo redigido um livro da viagem que lhe outorga a consideração de primeira escritora hispânica em língua latina.
Nos Açores, e em particular em São Miguel, esta tradição adquiriu um ambiente especial, com a piedade popular a falar mais alto e o povo a venerar e a louvar, bem à sua maneira, a Senhora da Estrela ou Senhora das Candeias.
Por outro lado, António Pedro Costa abordará na sua palestra como se reiniciou o Cantar às Estrelas na Ribeira Grande, tradição que depois irradiou para outros lugares da ilha de São Miguel, em que o figurino dos atuais cantares remonta apenas ao século passado, mas que pode recuar, conjuntamente com outras formas de folia ou piedade popular até ao século XVI.